Mitnick, hacker mais famoso da história, volta à internet
Terminou ontem, com um gesto quase prosaico, um dos bloqueios mais marcantes da história da internet: em 21 de janeiro, encerrou-se o prazo de liberdade condicional do hacker (mestre em computadores) Kevin Mitnick, 39, que já foi considerado pelo governo dos EUA "o criminoso de informática mais perigoso de todos os tempos".
Depois de invadir uma série de redes de computadores, inclusive as de grandes empresas de software e hardware e de uma agência de espionagem norte-americana, passar vários anos preso e sofrer restrições profissionais, Mitnick finalmente obteve autorização para acessar a internet.
Ele não comentou seus planos imediatos, mas sua namorada, a jornalista de tecnologia Darci Wood, declarou que o primeiro site a ser acessado pelo hacker seria o dela, um blog (diário virtual) cujo endereço é www.labmistress.com/lmblog/girlgeek.
Embora tenha sido capturado várias vezes nos anos 80, Mitnick sempre voltou a praticar invasões, em parte aproveitando as penas relativamente pequenas que recebeu. Mas, em 1994, ele foi finalmente derrotado: numa atitude que poderia ser considerada audaz para qualquer outro hacker, mas que para ele era até banal, invadiu os PCs do cientista e especialista em segurança Tsutomu Shimomura, que estava ganhando fama por sua colaboração com o governo dos EUA.
A caçada cibernética que se seguiu foi a desgraça de Mitnick: depois de algumas semanas, Shimomura e o FBI conseguiram localizar o hacker, que foi preso num apartamento alugado em Raleigh, na Carolina do Norte.
Naquela vez, as autoridades norte-americanas não deixaram barato: Mitnick ficou detido entre 1995 e 2000 sem julgamento, o que causou revolta entre seus fãs e ajudou a alimentar o mito do hacker na internet, que chegou a servir como meio para arrecadação de fundos para a defesa legal de Mitnick.
O Departamento de Justiça dos EUA diz que Mitnick causou prejuízos de US$ 1 milhão, mas os promotores que o acusaram falam em US$ 300 milhões, sem revelar mais detalhes.
Embora Mitnick fosse capaz de feitos tecnológicos consideráveis (como manipular redes de telefonia celular para acessar a internet sem ser detectado), sua principal estratégia para invadir computadores foi o que ele chama de "engenharia social", ou seja, enganar funcionários de empresas de informática para conseguir senhas e contas de acesso.
Filho de pais separados, Mitnick cresceu em Los Angeles, na Califórnia, sem muitos recursos financeiros -a mãe começou a trabalhar como garçonete após o divórcio, que aconteceu quando o filho tinha três anos. Na adolescência, o hacker praticou seu primeiro truque: usando um furador de papel, descobriu como fraudar bilhetes de ônibus para viajar sem comprar passagens.
Embora tenha acessado redes altamente confidenciais, Mitnick não manifesta a agressividade muitas vezes associada aos invasores digitais: em sua trajetória, a destruição de arquivos alheios é uma atitude bastante rara. "Eu nunca danifiquei intencionalmente nenhum dos computadores que invadi", afirma.
Mas a compulsão por acessar sistemas proibidos é uma constante na vida do hacker. Um exemplo: sua ex-mulher, Bonnie Vitello, era uma funcionária da companhia telefônica General Telephone que o ajudou a praticar invasões. Em 1987, quando namoravam, ambos foram presos pelo FBI. Bonnie acabou sendo liberada e se casou com o hacker poucos meses depois.
O hacker não se diz arrependido. No primeiro capítulo de seu livro, que pode ser consultado na internet, ele afirma: "O que fiz não era nem ilegal quando comecei, mas se tornou crime depois que nova legislação foi aprovada". "Eu continuei mesmo assim."
Ele aponta a "diversão" como principal motivo de suas ações: "Na verdade, tudo foi para saciar minha curiosidade, ver o que eu podia fazer e obter informações secretas sobre tudo o que me interessasse". "De um menino que gostava de brincar com mágica, transformei-me no hacker mais famoso do mundo."
Mesmo com o fim do período de liberdade condicional, as autoridades norte-americanas continuam a fazer uma restrição ao futuro de Kevin Mitnick: pelos termos do acordo que o hacker fez com a Justiça norte-americana, qualquer lucro que ele venha a obter sobre livros ou filmes baseados em suas "atividades criminosas" será revertido para as vítimas de seus crimes (grandes empresas de informática).
Segundo o Departamento de Justiça dos EUA, essa exigência vigorará até 2007.
Como diz respeito apenas a proezas ilegais, ela não impede que o hacker realize outras atividades relacionadas à informática.
Para capitalizar sua fama, Mitnick abriu uma empresa de segurança com o amigo e produtor cinematográfico Alex Kasper.
A companhia, que se chama Defensive Thinking (www.defensivethinking.com) e fica em Los Angeles, pretende lançar um filme de treinamento no primeiro trimestre deste ano. A obra, que será um guia de segurança empresarial, poderá contar com a atuação do próprio Mitnick.
Não seria a primeira representação do hacker: em 2001, ele fez uma ponta no seriado "Alias" -ironicamente, fazendo o papel de um agente da CIA.
No mesmo ano, Mitnick e Kasper criaram um programa de rádio, que se chamava "Dark Side of The Internet" -o lado negro da internet- e era transmitido semanalmente num horário ingrato (5h de domingo). O programa saiu do ar, mas ainda é possível ler notas sobre várias de suas edições no site www.kfi640.com/darkside.
Recentemente, Mitnick lançou o livro "The Art of Deception" (A Arte do Engodo), que pode ser comprado em versão impressa (US$ 20) ou eletrônica (US$ 27) no site www.amazon.com.
O site da Defensive Thinking traz pedaços do primeiro capítulo, mas a leitura mais interessante está em www.theregister.co.uk/content, onde há trechos que foram vetados pela editora do livro e acabaram vazando num grupo de discussão on-line.
fonte: folha de São Paulo
Terminou ontem, com um gesto quase prosaico, um dos bloqueios mais marcantes da história da internet: em 21 de janeiro, encerrou-se o prazo de liberdade condicional do hacker (mestre em computadores) Kevin Mitnick, 39, que já foi considerado pelo governo dos EUA "o criminoso de informática mais perigoso de todos os tempos".
Depois de invadir uma série de redes de computadores, inclusive as de grandes empresas de software e hardware e de uma agência de espionagem norte-americana, passar vários anos preso e sofrer restrições profissionais, Mitnick finalmente obteve autorização para acessar a internet.
Ele não comentou seus planos imediatos, mas sua namorada, a jornalista de tecnologia Darci Wood, declarou que o primeiro site a ser acessado pelo hacker seria o dela, um blog (diário virtual) cujo endereço é www.labmistress.com/lmblog/girlgeek.
Embora tenha sido capturado várias vezes nos anos 80, Mitnick sempre voltou a praticar invasões, em parte aproveitando as penas relativamente pequenas que recebeu. Mas, em 1994, ele foi finalmente derrotado: numa atitude que poderia ser considerada audaz para qualquer outro hacker, mas que para ele era até banal, invadiu os PCs do cientista e especialista em segurança Tsutomu Shimomura, que estava ganhando fama por sua colaboração com o governo dos EUA.
A caçada cibernética que se seguiu foi a desgraça de Mitnick: depois de algumas semanas, Shimomura e o FBI conseguiram localizar o hacker, que foi preso num apartamento alugado em Raleigh, na Carolina do Norte.
Naquela vez, as autoridades norte-americanas não deixaram barato: Mitnick ficou detido entre 1995 e 2000 sem julgamento, o que causou revolta entre seus fãs e ajudou a alimentar o mito do hacker na internet, que chegou a servir como meio para arrecadação de fundos para a defesa legal de Mitnick.
O Departamento de Justiça dos EUA diz que Mitnick causou prejuízos de US$ 1 milhão, mas os promotores que o acusaram falam em US$ 300 milhões, sem revelar mais detalhes.
Embora Mitnick fosse capaz de feitos tecnológicos consideráveis (como manipular redes de telefonia celular para acessar a internet sem ser detectado), sua principal estratégia para invadir computadores foi o que ele chama de "engenharia social", ou seja, enganar funcionários de empresas de informática para conseguir senhas e contas de acesso.
Filho de pais separados, Mitnick cresceu em Los Angeles, na Califórnia, sem muitos recursos financeiros -a mãe começou a trabalhar como garçonete após o divórcio, que aconteceu quando o filho tinha três anos. Na adolescência, o hacker praticou seu primeiro truque: usando um furador de papel, descobriu como fraudar bilhetes de ônibus para viajar sem comprar passagens.
Embora tenha acessado redes altamente confidenciais, Mitnick não manifesta a agressividade muitas vezes associada aos invasores digitais: em sua trajetória, a destruição de arquivos alheios é uma atitude bastante rara. "Eu nunca danifiquei intencionalmente nenhum dos computadores que invadi", afirma.
Mas a compulsão por acessar sistemas proibidos é uma constante na vida do hacker. Um exemplo: sua ex-mulher, Bonnie Vitello, era uma funcionária da companhia telefônica General Telephone que o ajudou a praticar invasões. Em 1987, quando namoravam, ambos foram presos pelo FBI. Bonnie acabou sendo liberada e se casou com o hacker poucos meses depois.
O hacker não se diz arrependido. No primeiro capítulo de seu livro, que pode ser consultado na internet, ele afirma: "O que fiz não era nem ilegal quando comecei, mas se tornou crime depois que nova legislação foi aprovada". "Eu continuei mesmo assim."
Ele aponta a "diversão" como principal motivo de suas ações: "Na verdade, tudo foi para saciar minha curiosidade, ver o que eu podia fazer e obter informações secretas sobre tudo o que me interessasse". "De um menino que gostava de brincar com mágica, transformei-me no hacker mais famoso do mundo."
Mesmo com o fim do período de liberdade condicional, as autoridades norte-americanas continuam a fazer uma restrição ao futuro de Kevin Mitnick: pelos termos do acordo que o hacker fez com a Justiça norte-americana, qualquer lucro que ele venha a obter sobre livros ou filmes baseados em suas "atividades criminosas" será revertido para as vítimas de seus crimes (grandes empresas de informática).
Segundo o Departamento de Justiça dos EUA, essa exigência vigorará até 2007.
Como diz respeito apenas a proezas ilegais, ela não impede que o hacker realize outras atividades relacionadas à informática.
Para capitalizar sua fama, Mitnick abriu uma empresa de segurança com o amigo e produtor cinematográfico Alex Kasper.
A companhia, que se chama Defensive Thinking (www.defensivethinking.com) e fica em Los Angeles, pretende lançar um filme de treinamento no primeiro trimestre deste ano. A obra, que será um guia de segurança empresarial, poderá contar com a atuação do próprio Mitnick.
Não seria a primeira representação do hacker: em 2001, ele fez uma ponta no seriado "Alias" -ironicamente, fazendo o papel de um agente da CIA.
No mesmo ano, Mitnick e Kasper criaram um programa de rádio, que se chamava "Dark Side of The Internet" -o lado negro da internet- e era transmitido semanalmente num horário ingrato (5h de domingo). O programa saiu do ar, mas ainda é possível ler notas sobre várias de suas edições no site www.kfi640.com/darkside.
Recentemente, Mitnick lançou o livro "The Art of Deception" (A Arte do Engodo), que pode ser comprado em versão impressa (US$ 20) ou eletrônica (US$ 27) no site www.amazon.com.
O site da Defensive Thinking traz pedaços do primeiro capítulo, mas a leitura mais interessante está em www.theregister.co.uk/content, onde há trechos que foram vetados pela editora do livro e acabaram vazando num grupo de discussão on-line.
fonte: folha de São Paulo
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